sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Extra, extra, extra!

Eu sei! Sou uma tratante. E sei também que já faz quase meio ano que estou aqui. E quer saber? Nem vi passar! Dizem que quando a gente tá feliz é assim...nem se vê passar. E como o tempo é relativo, eu fui querendo contar tuuuudo o que estava acontecendo comigo, fiz um post de 3 páginas e, como ainda sentia que faltavam os detalhes, deixei passar 1 semana...outra...1 mês...e cá estou, em pleno 11 de setembro postando!



O título do post é um dos motivos pelos quais ando sumida. Lembra a minha vida à tôa de antes? "Isso não me pertence maaaais!". Há pouco mais de um mês arrumei um trabalho extra. Agora, além dos meus teenagers queridos, também tenho Kayla, uma fofura de 1 ano e meio e Connor, um pestinha adorável de 4 anos. Ele tá na fase do "Por quê?"...meu cérebro cozinhava no começo pra explicar tudo pra ele. Juro que saía daquela casa morrendo de dor de cabeça. Explicar porque a árvore caiu, porque o caminhão tava tirando terra da casa, porque noz apodrece...e tem que contar história de tudo, de tudo mesmo! Ele me perguntou o que era um furacão. Me perguntou se eu tinha namorado hahaha criança tem uma tara com namorado dos outros, né? E como se não bastasse me contou tudo sobre o namorado da segunda babysitter dele, a Melissa (eu trabalho segundas, terças e quartas e ela trabalha quintas e sextas lá). Ela é a criança que toda mãe sonha! Acho que já fiquei babando porque ela é a minha cara naquelas fotos de "Guardando o meu retratinho de mim se lembrará e do meu primeiro aninho jamais de esquecerá!" (hahaha pelo menos o meu é assim!). Tenho foto e posto já (ps.:só não tenho do Connor porque quando resolvi começar a tirar, voltaram as aulas e eu não cuido mais dele. Sniff!). Um dia ela teve diarreia, minha gente. Affe! Eu abri aquela fralda e o Connor era só risadas (e eu só choro hahaha brincadeira). Ela se mexeu e o cocô (ai, desculpa, não tenho como contar com eufemismos isso) se espalhou todo. Saí carregando ela pelos bracinhos até a banheira e no percurso, adivinha, né? Gritava o Connor pra me ajudar, pedi pra ele ligar a banheira e ele só ria. Juro que nem antes de vir me imaginei numa situação dessas! Hahahahaha. Mas como um ser pensante, é tranquilo...depois que passa vc acha que tirou de letra. Dei um banho nela, coitada! e depois que a deixei limpinha, mandei ela e o Connor brincarem no quarto dele. Deus! Daí pra frente que vem o pior. Limpar os rastros. Ai!



Quando eu fui conhecer o Connor, eu quis chorar porque ele era a encarnação do Dênis, o Pimentinha. Mas os conselhos de antes de vir pra cá acabaram por ecoar na minha mente e eu me lembrei tudo o que falar e o que não falar para uma criança. Funcionou. Ele me respeitou TANTO que nas últimas semanas quando a mãe dele chegava em casa, ele ficava de mau humor instantâneo. Não queria que eu viesse embora pra casa, perguntava pra mãe dele porque eu não poderia ficar mais, brincar mais. E eu com a olheira mais gigante do mundo já! Hahaha. Mas não há como não derreter. Jess (a mãe dele) me falava que era um bom sinal (tenho pra mim que ele bem expulsou algumas babysitters de lá já rsrsrs). Ela me achou pelo primeiríssimo site que me cadastrei aqui nos EUA, um que a Ericka me indicou e que já estava mais abandonado do que este blog. E como as antigas babysitters dela também estavam no mesmo site, ela ainda não tava muito segura comigo. Hoje em dia, ela fica meio boquiaberta com coisas simples que faço.











Fui com o Connor e a Kayla em um lago que tem há poucas quadras da casa dela. Gente! Nunca vi duas crianças tão emocionadas na vida! Como a Kay ainda não fala muita coisa, ela via os patos e ficava: "Quack, quack!" Linda! E o Connor queria ir pescar hahaha E depois pai nenhum aqui entende que criança gosta mesmo é de outdoors. Enchem os moleques de brinquedos mega-coloridos, de trenzinhos que fazem duplo twist-carpado, de bonecas gigantes que a criança até tropeça no pé e cai de boca no chão. Ai! É tão mais simples! 1 hora e meia de lago e eles já voltaram para casa mortos! Eu também estava morta porque a preocupação em espaço aberto é redobrada, mas respirar ar puro é 50 vezes melhor do que assistir "Dora, the explorer" e correlatos.



Também esqueci de contar que tem um terceiro figurinha: o Max! O Max é a criança que me leva à loucura. Um labrador de 7 anos e muuuuita carência (minha Nina ao cubo ele) que faz de tudo e mais um pouco pra chamar a atenção. Ele cada dia destrói um brinquedo deles. No começo, eu atendia aos pedidos do Connor e salvava cada brinquedo, mas depois que vi que ficava me machucando e que toda hora o Max iria caçar outra vítima, euuuu larguei mão! Ahhh, tá doido! Hahaha Sem contar que o Max já me machucou e quase me derrubou me enrolando na corrente dele...já pisou nos cocôs que eu tava falando, já catou a banana da Kayla em cima da mesa, já me mordeu (sem intenção, mas machucou), já fez xixi no carpete porque eu não vi que ele queria sair...e assim vai!


Fazendo uma retrospectiva, coloco aqui o post nunca dantes publicado:

Posso dizer que me adaptei realmente à vida aqui. Até a ser pontual já que os americanos possuem uma pontualidade inglesa hahaha. Das lições que a vida traz, aprendi que diferenças culturais têm lá seu lado divertido e que não cabe à você mudar o que as pessoas pensam. Já entendo que as crianças aqui não tomam banho todos os dias (as menores, principalmente. Aqui em casa o Nick briga...e acaba tomando banho quando joga hockey o que dá quase, é, quase todos os dias). Já atendo o telefone sem medo de ser feliz, afinal estamos aqui para isso. Deixei a insegurança besta de lado. Host families, amigas da Judy, a própria Judy, minha coordenadora local, brasileiras que estão aqui há séculos e americanos já falaram que meu inglês é bom, entao tô tentando alcançar um “next step” e falar mais sobre mais coisas, além de instigar os meninos a falarem comigo. No Brasil, a gente não tem muito o hábito de viajar, o que é lamentável. Aqui, qualquer 100 dólares a mais no bolso é motivo para conhecer um lugar novo, hábito que adquiri e que pretendo continuar praticando no Brasil.

Estava devendo a continuação…eis a continuação: Pulando a graduação, vamos à Primeira Grande Crise. A crise dos 3 meses, do um quarto de caminho completo, os meus 1929! Vou contar dos meninos, o dia em que eu cheguei a chorar aqui. Eles estão de férias e estão entendiados pra caramba. E não adianta passar para eles o meu método anti-tédio, afinal eles não estão com a menor paciência para ler, andar por aí ou coisa parecida. Eu não paro um segundo durante o dia agora. Quando eles acordam, eu também já acordo preocupada se eles estão com fome. Aí tá daquele jeito, junk food o dia todo e eu fico improvisando umas coisas mais saudáveis. Um dia fiz um frango aqui e o Alek deu uma reformulada: tacou pimenta, tirou as cebolas microscópicas, mandou ver em mais shoyu e aí comeu feliz da vida. Arroz aqui não tem salvação. Você pode ser profissional em fazer arroz soltinho, mas o daqui é empapado por natureza. E depois, como eles pararam de comer as coisas que eu fazia, eu também parei de cozinhar e só entrego as junk foods que eles me pedem e pronto (e vou pro saco junto! )

O dia em que eu chorei, eles estavam impossíveis. Gritavam um com o outro por toda e qualquer coisinha, se rolavam no chão, briga atrás de briga. Coloquei o hot pocket que me pediram na mesa e ninguém comeu. Quando começaram a comer, começaram de novo a brigar...e umas brigas medonhamente violentas. Fazia tempo que eu não convivia com uns fights desses, então eu fico realmente preocupada huahuahau aí eles foram lá pra fora e quando eu fui ver, o Nick tava sem ar, engasgando com a comida, cuspindo tudo na grama, roxo, o menino! E aí o Alek gritando e eu louca lá perguntando se o Nick tava respirando e mandando o Alek parar de gritar. Depois, o Alek ainda me joga um papel no chão. Eu disse: “cata AGORA!” e ele: “foi o Nick quem começou a jogar em mim, bla bla bla”. Eu: “Não tô perguntando quem começou, Alek. Você fez isso agora, EU tô mandando você catar e não quero argumentação nenhuma”. Ele: “Mas...”. Eu: “Alek?”. Ele: “Ele começou e eu...” Eu: “Alek 1! Alek 2!” Ele: “Eu não fui atrás dele para ficar enchendo o saco dele, ele quem...” Eu: “Alek 3! Você nunca faz isso e não vai começar agora. Não quero me indispor com você”. Nick vem voando nele, comida no chão, sujeirada, os amiguinhos em volta, uns rindo, desrespeitando, outros calados e eu aqui no meio do papelão sem conseguir botar moral. Entrei e na mesma hora o telefone tocou. Era a Judy. Destampei a falar, desabafei MESMO, dedurei os pestes porque me cansei de ocultar o mau comportamento que andavam tendo! Disse como os dois estavam me dando “such a hard time” (vulgo “um trabalhão”) e nisso, chorei. A Judy tinha me aconselhado uma vez a chorar quando os dois estivessem muito pestes porque aí eles ficam preocupados e param, mas eu não acho muito certo hahaha então o que eu chorei foi de verdade. E, sim, eles ficam preocupados e param. Fui puta da vida lá fora entregar o telefone para eles falarem com a Judy e subi pro meu quarto. Quando resolvi voltar pro andar debaixo, o Nick veio atrás de mim e falou: “Dayene, você está triste?”. Eu: “Sim, Nick, eu estou. O comportamento de vocês está me desapontando e eu fico realmente preocupada com essas brigas porque não é a primeira vez que alguém sai machucado. E eu te vi engasgando e vocês não estão me respeitando mais.” Ele: “Você quer ir embora pra sua casa?” Eu: “Não.” Ele: “Porque eu não quero que você vá embora e eu sinto muito pelo que aconteceu.” Abraços. E eu com os olhos molhadinhos outra vez. Hahahaha! Por mais insuportável que seja tem hora, uma demonstraçãozinha de carinho dessas muda tudo. Muda a impaciência, a vontade de pegar essas crianças pela orelha, o tratamento...eu nunca cheguei a ter vontade de voltar pra casa por causa deles, mas eu sei como são com as au pairs que soooofrem. Aí vai o conselho que eu errei feio e que tô custando pra colocar nos trilhos: Diga NÃO para uma criança. Criança de QUALQUER idade. Elas precisam, entendem e gostam de um não. Quando eu digo de qualquer idade é porque eu achava os meninos tão crescidinhos que achava besteira proibir coisas como amigo vir pra cá, negar de levá-los pra lá e pra cá, mandar na casa, nos horários, nas atitudes. Achava besteira impedir de ouvirem a música que quisessem, de assistirem TV e tals. A Gabi (vocês se lembram, né? A primeira menina que conheci aqui por perto) cuida de gêmeos de dois anos. Eu ri muito o dia que fui na casa dela enquanto ela estava trabalhando. Ela fala com eles como se fossem adultos. As crianças balbuciam palavras e ela já nega a mamadeira se eles não pedem “Please”. E tá muito certinho! Tem que ver como eles entendem. Um já faz birra pra testar a autoridade dela e o outro é mais doce e acata direitinho. Criança monta em você se você não se mostra autoridade desde o princípio. Fato! Nunca façam como eu que tentei agradar e conquistar primeiro pra depois me impôr.

Três semanas se passaram e agora os meninos estão num regime meio “supernanny”. Além deste dia que deram problema comigo, andaram encrencando com o pai deles e brigaram na casa da Theresa (a amiga portuguesa da Judy). Com o pai, o Alek gritou porque o Janis estava brincando com alguma coisa de namoradinha. O Janis é meio bobão assim, mas nada justifica uma criança gritar com o próprio pai. Aí que eu admiro a Judy...ela pode pensar o que for do Janis, mas ela quer que os filhos pensem o melhor dele. E ela deu uma lição de moral da-que-las no Alek: “Onde já se viu gritar com um adulto, ainda mais teu pai. Quer dizer que um dia você vai virar pra mim e levantar seu tom de voz porque ouviu algo que não quis? Não são assim que as coisas funcionam debaixo desse teto, Alek. E na primeira oportunidade que você tiver, terá que pedir desculpa para o seu pai.” Bom, aí, na terceira semana, um tentou afogar o outro na piscina da Theresa. Huahuahua! Agora a gente ri, mas na hora dá até tremelique. Ela contou tudo pra Judy, falou que ficou assustada com os dois. Nooooooooossa, aí a Judy ficou braba. Gritava tanto com os dois nessa casa (ui, odeio quando isso daqui fica nessa gritaria), falou que eles vão aprender a se comportar aqui e na casa dos outros, que acabou a gracinha, as lutas, as gritarias, um provocando o outro (até parece, né? Mas deu pra assustá-los!).

Aí, no dia seguinte, a Judy convocou uma reunião familiar. Nós quatro na sala, cada um com um papel lendo o que ela tinha escrito: “Quadro de comportamento de Alek e Nick: regras da família”. Basicamente sem agressões físicas, sem gritos, proibido desrespeitar os pais, a Dayene (tava bem assim lá) ou qualquer outro adulto e demonstrar respeito e cuidado na casa das outras pessoas. Recompensas? Sem “checkmarks” por uma semana, ganhava uma ida pro Six Flags. Menos de 3 checkmarks no mês, ganhava paintball. Punições: Ficar duas semanas sem dormir na casa dos amigos ou sem os amigos virem dormir aqui, perder video-game por 3 dias e outro eletrônico e qualquer outra coisa que a Judy escolhesse. Ficaram amuadiiiinhos, quietos e a Judy lá relembrando tudo o que eles fizeram e o quanto ela estava envergonhada com o comportamento deles.

Era isso. Resumo da ópera? Nunca dei um checkmark para eles! Hoje em dia me arrependo um pouco por isso, mas as ameaças de: "se você não parar com isso agora, vai levar um checkmark" fizeram do meu verão um verão cheio de paz! Hahahaha. Outra coisa que mudou muito neste tempo é a nossa proximidade. Eles me abraçam, me esmagam, lutam comigo...acabam me machucando vez ou outra, mas vêm me chamar para assistir filmes, comer com eles...e sabe o que mais? Pasmem! Passei o verão no sofá fazendo companhia para os video-games de tarde da noite. Como desde que comecei a fazer extra vinha acordando 8 da manhã, a minha companhia era ficar no sofá até conseguir. Quando eu dormia, o Nick me acordava e eu vinha de zumbi aqui pra cima. Pode?! Mas em relação à essas coisas eu não sou muito de dizer não. A não ser que a necessidade seja bem grande mesmo.



Também me matriculei na faculdade. Foi um deus-nos-acuda pra isso! Pedi tanta ajuda...ajuda da Gabi, ajuda da Cris...a Gabi foi meu anjo em forma de gente. Quem diria que no começo eu não me simpatizei com ela! Hahaha e ainda bem que a primeira impressão NÃO é a que fica. Eu cheguei a chorar horroreeeeeeees de desespero antes da matrícula. Se não me engano, passei umas três semanas tentando e tudo dava errado. O link no site não abria, quando fui na faculdade, já tinha fechado (horário errado na internet, humpf!), perdi datas de inscrição, vi coisas erradas, ligava lá e entendiam que eu queria ser uma aluna regular. Aiiii! Sabe o que é vc se sentir uma porta? Se vc não sabe, nunca queira saber! É horrível. Sério que eu me sentia iletrada. É sentir que a sua independência, o seu poder e a sua habilidade de resolverem tudo "sozinha" putrefaram da noite pro dia. Enfiiiim, pulemos este capítulo porque o que importa é que no fim tudo deu certo! E se não dá é porque não chegou ao fim. Estudarei ESL (English as a Second Language) - resolvi fazer porque me renderá um certificado que permite dar aulas no Brasil - que tentarei entrar no avançado...tem um teste na próxima semana de colocação; também farei photoshop porque nada como voltar a ter um pouquinho de contato que seja com a sua profissão, né? Novembro e dezembro aos sábados (aí vc me pergunta que titica eu tenho na cabeça e eu respondo que estará nevando nesta época...você perguntará então se não é titica, se é merda mesmo que eu tenho na cabeça e eu respondo que não quero parar minha vida no inverno e não queria desperdiçar meus preciosos diazinhos de calor com a obrigação de me sentar numa cadeira por algumas horas). Verdade seja dita, não tinha muita opção de curso, então eu me virei nos 30 pra juntar útil e agradável. Mais dois que peguei depois! Italiano avançado (mi manca studiare questa bella lingua) e business com ênfase em presentation skills (uhuuul! Tem a palavra business na coisa não importa do que se trata...é do meu business! hahaha)


O que eu acabei nem contando foram das minhas viagens. Dia 4 de julho, Dia da Independência, fui na louca para Washington DC e a surpresa foi ótima! Apesar de ter sido parada pela primeira vez por um policial nos EUA, passei ilesa e curti demais aquele lugar. Ah, sei que gerou curiosidade. É, eu passei um sinal vermelho enquanto olhava pro GPS...mas o sinal ficou vermelho, sabe? Aqueles malditos milésimos de segundo que prejudicam a sua imagem na frente do policial. Fiquei um cadinho nervosa..coisa pouca, afinal era 4 de julho e eu resolvi fazer besteira bem na capital do país, bem no lugar certamente mais policiado do mundo na ocasião. Ele foi bonzinho e me deixou passar e pra felicidade geral das meninas do carro, não levei multa. Aquele lugar é horrííível de dirigir! Nenhuma rua passa de 35mph (a maioria nas suas míseras 25) e muito semáforo e para demais. Ai!


Bom, sem vergonha como sempre, vou deixar pra contar mais coisas depois! O que eu tenho pra dizer é que se os próximos 6 meses passarem como esses passaram, estou nas nuvens! Sobre isto, o verão, o 11 de setembro, minha relação com a host, o Alek no High School, o Brazilian Day, minhas viagens (feitas e futuras) e muito mais no próximo post que espero que não falhe em ser breve. Tudo é questão de ritmo!


SAUDADES DEMAIS DAÍ!

Beijos.